Precisa-se
Preciso de alguma que me faça disparar o gatilho que tenho na cabeça e na ponta dos dedos.
Há 6 dias (!!!) que não escrevo nada... Não é bem assim; escrevo, fragementos de conversas, frases batidas, apontamentos numa consulta que nem ouço porque aquilo não é comigo, porque aquilo é demais para mim, porque não compreendo... Escrevo tudo aquilo de que não preciso.
Falta-me inspiração! Falta-me o móbil para escrever. Não que não tenha vontade. Ah, se tenho!
Mas pareço azeite numa frigideira, parado, mudo, sem a mínima agitação. Por momentos suspeitei até que teria deixado de sentir, já que o que dançava nos meus dedos, entrelaçado no meu coração de fingidor, eram os sentimentos, as emoções, a Vida que pulsa em mim e quer sair a todo o custo. Mas não se tratava de falta de sentimentos; eles continuam cá dentro como leões em jaulas pequeninas, rugindo à passagem de alguém que desconhecem. Não, não era falta de sentimentos.
Então o que seria?! Será que me revi noutros e agora prefira ouvir em vez de gritar a todo o mundo o que me arde cá dentro? Será que o que sou se tornou tão banal que nem eu me queira "ouvir"?! Não, também não era isso...
Gostaria muito de saber o que se passa... Talvez por estar num cruzamento de infinitas estradas, todas elas com um destino diferente, mas sempre hipotéticas. O meu destino é um e um só. Não há nada a fazer...
Apareceu, contudo, um ente mágico que me faz flutuar sob as pedras da calçada e me sussura carinhos em surdina, à boca do coração. É então que me sinto ainda mais pequenino. É então que o pulsar desse Maldito se torna tão insuportável que me chega a expulsar esse líquido de Vida das janelas da Alma... Alma?! Quem és tu, que me martirizas com as tuas imposições? Quem és tu para me dizeres o que fazer?
Pensando bem, tu és Eu e eu sou Tu. Somos unos e partidos na continuidade da Vida, nas memórias que nos fazem o que somos.
Saltando de mãos dadas, de nuvem em nuvem (daquelas cheias de chuva amor, como as que atapetam os tectos das minhas ilhas de saudade), vou em direcção a mim, fugindo de mim e de ti, e encontrando-te aqui e ali, entre as esquinas.
Voas para mim, prendes-te ao meu pescoço, como as crianças, e chamas-me de teu "mais que tudo"... E fico sem graça, na minha desgraça, pois nunca fui o "mais que tudo" de ninguém. É uma grande responsabilidade,sabes?
Como aquela que tinha para comigo em manter aberta a via da escrita. Mas essa fecha-se a cada hora que passa.
Precisa-se de inspiração! Precisam-se de respostas... Preciso de vocês que me leêm... Preciso de ti...