quarta-feira, junho 08, 2005

Vulcões Adormecidos

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Ser ilhéu não é viver numa ilha... É ser uma dentro de outra, que nos contém, que nos dá vida, que nos oprime.
Ser ilhéu, é acordar de manhã e ver o mar, sentindo as vagas de calor e de ressalga em mim e no mundo.
Ser ilhéu é estar rodeado de bruma e de nevoeiro, escondido de mim, encontrando-me em cada um de vocês, à espera de um raio de Sol.
Ser ilhéu é viver intensamente a vida, mesmo sem se saber porquê...
Ser ilhéu é percorrer os caminhos do campo, escutando a terra e respirando as àrvores, saboreando a solidão forçada de alguém que quer amar a não sabe a quem...
Ser ilhéu é ser redondo, é ser quadrado, é ser bicudo e obtuso! É ser outro que não seja um diferente de mim...
Sou ilhéu, e acordei para a vida! Como adormecer novamente esta lava tórrida que, dentro de mim, ousa rebentar sem direcção?!
Sou ilhéu e quero sentir a calma do meu MAR. Quero afogar o meu peito em chamas nas copas das criptomérias e voar sobre as lagoas de fogos de ânsia, para mergulhar nos algares de amor solidão...
O meu corpo apaga-se de mansinho, debaixo da exaustão rebelde que se apodera devagarinho. Chiuuuuuu!, digo para a ilha que sou. Ela suspira de agonia em abalos de terra debaixo de mim... O chão foge-me debaixo dos pés, mas tenho alma e mente, e corpo e coração de ilhéu. E assim terei, até ao resto dos meus dias!
Mas o mar vai roendo as minhas costas. O mar vai-me roubando todos os dias um pouco mais do que sou. Mas ser ilhéu é mesmo assim... É dar-me sem receber... É receber sem esperar... Porque existe sempre um amanhã, diferente do hoje e estupidamente parecido com o ontem.
Eu quero chegar... Quero ser ilhéu amanhã para esquecer o ilhéu que fui hoje. E amanhã concerteza vou ser um outro, melhor ,pior, igual, mas nunca indiferente aos outros ilhéus que, perdidos como eu, ousam chamar as gaivotas que lhes trazem novas doutras vidas.

11 Comments:

Blogger Rita said...

Adorei, Martim, palavras cheias de força, de desejo de viver, avassaladoras! Está verdadeiramente lindo.
Beijo,
Rita

quarta-feira, junho 08, 2005 12:10:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Há vulcões adormecidos que sem contarmos entram em erupção. Uma escrita forte demais a tua :)) Beijos serenos mas que despertem esse vulcão ;)

quarta-feira, junho 08, 2005 2:44:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Hum...Martim...onde foste tu buscar tal inspiração e imaginação!Gostei do k li....fenomenal mesmo!Parabéns...abraços

quarta-feira, junho 08, 2005 8:14:00 da tarde  
Blogger Martim said...

Intimidade indecente: o desejo de viver está cá dentro... Ainda não descobri foi a maneira de o libertar sem causar estragos!

quarta-feira, junho 08, 2005 10:42:00 da tarde  
Blogger Martim said...

sylpha: nem de propósito. Este foi um vulcão que despertou sem ninguém lhe pedir. A lava que dele jorra é que queima tudo à sua passagem, sem rumo.

quarta-feira, junho 08, 2005 10:43:00 da tarde  
Blogger Martim said...

joanissima: need any words?! Campos cheis de beijos

quarta-feira, junho 08, 2005 10:44:00 da tarde  
Blogger Martim said...

neco: my man... Com paisagens destas e com o turbilhão de coisas que sinto cá dentro neste momento, nem é tanto iimginação nem inspiração; trata-se, sim, de uma necessidade quase vulcânica de libertar esta energia que trago comigo! Abraços

quarta-feira, junho 08, 2005 10:48:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Simplesmente lindo...Deixa esse vulcão acordar e deixa que as gavoitas, almas de quem voa sem destino, poisam em teu ilhéu de solidão e faça por um momento uma ilha cheia de vida e paixão... Beijo

quinta-feira, junho 09, 2005 1:54:00 da tarde  
Blogger Sara said...

Tens o dom da escrita! :) As tuas palavras são mágicas... têm sabor a chocolate e a doçura do algodão doce!
Mham! Que delicia lê-las! ;)

Beijo em erupção!

quinta-feira, junho 09, 2005 6:03:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Foi por acaso que descobri o teu cantinho...dou-te os parabéns! Uma ilha que se renova constantemente numa procura de serenidade e vontade de viver. Curiosamente vou para a tua ilha amanhã :-))Abraços!!!!

segunda-feira, junho 13, 2005 12:47:00 da manhã  
Blogger Mário Gabriel said...

Obrigado por estas palavras de extrema beleza, porém, em nada comparadas com a experiência que é estar naquele éden perdido e celebrar a humildade daquele povo, o som da carroça contra as ruas desniveladas e o ar, tão húmido e abafado, perfumado ao cheiro da bosta por de mais incisivo! :)
Sou natural da ilha dessa lagoa. Sou ilha.

domingo, junho 19, 2005 12:41:00 da tarde  

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