quinta-feira, novembro 17, 2005

Notas Presas

Naquela noite, dentro daquela sala gelada, o som quente e aconchegante do violão ecoava nas paredes do que me tornara. As unhas lascadas, rachadas, enfraquecidas por um viver muitas vezes inutilmente pensado, arrancavam notas que mais pareciam gemidos sentidos.
A sala aquecia-se e iluminava-se. Os dedos das sábias mãos incansáveis num cansaço dolente e morno, contorciam-se e desfilavam-se ante o metal frio e insensível das simples cordas.
Ah! Os braços envolviam as formas vuluptuosas do instrumento, cheirando obscenamente a um amor ausente... Como se quisesse abraçar e tornar seu o violão, Ele desdobrava-se em miríades de acordes, complexos, subtis, inúteis. É que a música não é de ninguém; é de quem ela quer!
Ela soltava-se de mansinho, como que a conhecer quem a queria tomar. Entrando aqui e assomando acolá, ela sorria por estar satisfeita.
Ele, que a queria tomar, cativara-a...

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Imagem por Adamastor (www.olhares.com)

A meu pai