sábado, outubro 22, 2005

Siga aquele sonho!

Se te apetecer seres tu próprio, não há que enganar: mete os teus pés de barro ao caminho e afasta as heras! Ao fundo, por entre as folhas envelhecidas por Outonos de vidas passsadas, encontráras uma fonte de pura água cristalina. Então, beberás dela e todo o teu corpo sucumbirá a uma força nunca antes sentida...

O teu sonho levou-te aos sítios mais recônditos da tua essência e, das vezes em que não recusaste, deu-te prazer e tragos de felicidade. O teu sonho é um prolongamento de ti, dos teus ideais e dos teus devaneios mais loucos. É por ele que te levantas e vestes, comes e bebes e te deitas à noite novamente, na esperança de acordares no outro dia de manhã.
Um acordar ébrio de sentires e pleno de vidas... Aquelas que procuras ininterruptamente. Inutilmente perante a tua racionalidade frágil.
O teu sonho veste-se de linhos bordados a ouros e borrifados de perfumes das Arábias. E nele viajas entre as tuas miríades de personagens, criadas por ti, a partir de ti. Depois, ele leva-te até terras distantes, onde enfrentas os teus medos e receios, sempre seguro por uma rede invisível feita de partículas animadas por amizade...
O teu sonho traz-te de volta, mas a um sítio diferente de onde partiste. Um sítio onde as caras novas nãa passam de velhos conhecidos. Um sítio onde pensas não saber que podes mais, onde sempre tiveste poder...

Afinal, o teu sonho é a tua vida! Aqui e agora.

quarta-feira, outubro 19, 2005

Vazio Preenchido

A minha solidão parece-me tão consoladora daqui. Tal como ver-te ao longe, existires sem mim. Dói imenso saber-te por perto e não estares cá dentro.
Mas a luz duma tímida manhã tomou-me de assalto, lutando contra a teimosia e a resistência de um ser em racionalização.
Essa luz brilhante como o olhar duma águia, tocou ao de leve as pontas dos meus dedos, prolongamentos de mim, e levou-os por linhas de partituras mágicas, sempre inacabadas. Uma música sai da mente, envolta em mistérios negros de terras distantes em pensamento e onde passeio um coração rasgado, mas contido...
As notas sopram alentos de um amanhã escrito ontem, empurrando as asas tímidas dum anjo que ousa, uma vez mais, enfrentar os medos e ser o que sente.
E as perguntas maiores saltam e as indefinições dos passos atormentam de novo um espírito que sabe querer o que não lhe é permitido. É então que uma voz de cascatas sopra de um algar sem fundo, "és como os outros...".
Rendo-me então, envolto em ti, noutros seres que não soube agarrar, e movo as minhas terras para que outras colheitas possam crescer.
Os pássaros trarão as sementes, como pequenos momentos felizes, e um dia (mais breve do que espero, mas mais tardio do que penso), não passarás duma quimera que um dia aventurei pendurar ao peito,

Escuto o vento... Ele quer dizer-me algo. Parece chamar-me. E eu quero ir.
Será que me deixo levar novamente?! Sem expectativas...
E aguardo uma nova erupção...

segunda-feira, outubro 17, 2005

Eu Sei

Se eu voar sem saber onde vou
se eu andar sem conhecer quem sou
se eu falar e a voz soar com a amanhã
eu sei...

se eu beber dessa luz que apaga
a noite em mim
e se um dia eu disser
que já não quero estar aqui
só Deus sabe o que virá
só Deus sabe o que será
não há outro que conhece
tudo o que acontece em mim

se a tristeza é mais profunda que a dor
se este dia já não tem sabor
e no pensar que tudo isto já pensei
eu sei...

se eu beber dessa luz que apaga
a noite em mim
e se um dia eu disser
que já não quero estar aqui
só Deus sabe o que virá
só Deus sabe o que será
não há outro que conhece
tudo o que acontece em mim

se eu beber dessa luz que apaga
a noite em mim
e se um dia eu disser
que já não quero estar aqui
na incerteza de saber
o que fazer, o que querer
mesmo sem nunca pensar
que um dia o vá expressar
não há outro que conhece
tudo o que acontece em mim


Sara Tavares

terça-feira, outubro 11, 2005

Turbilhão

Já me disseram que tenho pressa de viver. Mas cheguei à conclusão que tenho é pressa de morrer.
A ideia de uma morte idílica seduz-me obscenamente. Como se de um íman ou escape se tratasse!
Porquê segurar um touro dentro de mim e soltá-lo quando a tourada acabou?! Não há lógica nem sentido em amar sem ser amado. Ou será a ideia de se ser desejado o que me seduz, afinal?
Uma vida inteira a esconder o que se sente mas não se quer sentir; as horas a fugirem e os segundos a desaparecerem como gotas de orvalho, escorrendo dos ramos duma oliveira. E o tempo sempre imóvel, naquele momento, naquela hora de certeza indefinida em que te passei a amar.
E caminhando entre uma ténue linha, que nos separa de nós próprios, vou vivendo os dias cinzentos duma angústia decorada com risos e sorrisos escondidos.
Os cursos de água trouxeram-me até ti... Para quê?! Não entendo, e no entanto sinto-me bem ante os teus espelhos verdes de alma atormentada e de anjo-demónio. Esses olhos... Os mesmos que me perscrutam o âmago em busca não sei do quê. Os mesmos olhos tristes que chamam e não é por mim.
As águas levaram-me e fizeram-me acreditar de novo em mim. Mas eu não quero acreditar; quero sentir-te em meu redor... Quero sentir o teu colo e o teu beijo... Nem que seja apenas por um segundo!

E os ventos mudarão, as folhas cairão, as pedras rolarão e desaparecerás de mim. Ainda que digas o contrário. Não quero!
Agora quero desfazer-me em lágrimas e sofrer. Quero estar só e mutilar-me por ti. Amando-te em solidão...

Amor, ainda aí estás?!