quarta-feira, agosto 24, 2005

Elementos de Vidas

Os odores desta terra, sulforosos, cheirando sempre a campo acabado de molhar por chuvinha, levantam-se neste ar quase irrespirável e misturam-se, em danças obscenas, com as vontades dos Homens.
Os Homens que, dominados pelos elementos, tentam sempre domar o Mar e Terra, o Ar e O Fogo.
A Terra que pisam e de onde brota a energia que os faz querer ser. O Mar revolto correndo-lhes nas artérias dilatadas por vontades de ir mais além, e que lhes dá a força e a vontade para construir castelos de inocências e pueris histórias de vida. O Ar fresco, carregado de húmidos humores, opressivo, dando-lhes o ânimo para subir as encostas vulcânicas duma vida passada a sofrer. O Fogo ardente, consumptivo e redentor, do qual os Homens fazem o seu combustível e que alimenta almas sedentas de coisas que não compreendem mas que querem alcançar.
As mesmas coisas em que pensam durante a faina e o trabalho. Donde arrancam madrastas cicatrizes, mutilantes por dentro e por fora mas que lhes dão o passaporte para uma sabedoria incalculável. A mesma que não se ganha em bancos de escola nem fechados em casa...

De vida em vida, vai-se ganhando a bagagem para uma qualquer passagem superior. Uma da qual nos orgulhamos de dizer "É minha!"...
Uma vida envolta em toques de violões e de cantigas ao desafio. E na qual os odores e as cores, os amigos e os amores, sejam os motores potentes que avancem com este barco nas águas revoltas....

segunda-feira, agosto 22, 2005

Despertar

Uma capa negra cobre o que sou. Ilusão de óptica talvez, mas na verdade, e de vez em quando, entreabro as suas pontas e perscruto o mundo à minha volta com dois pequenos olhos curiosos.
Duas luzinhas no escuro e que se incendeiam com as maravilhas pequenas e simples. Sim, simples porque despontei há pouco para a vida. E esta quer-se simples ao início. Não podemos criar já vícios de lorde, pois não?! Esses virão mais tarde, por imposição...
Ao mesmo tempo que as minhas janelas de guilhotina expandem o meu espírito, sinto-me invadido por um je ne sais quois... Delicioso e reconfortante.
O que será?! Revolvo as rugas e as dobras da minha negra capa, encardidas pela poeira do tempo... Mas não encontro nada de novo. Apenas velhas recordações e cacos de outras vivências que me dão o lume e o resfolegar de que preciso.
Saio do meu casulo, feito com suor e sangue, reparo em guizos e violetas que dantes não lá estavam. O perfume que delas vem (cheirando a brisa do campo e sabendo a amoras selvagens...) e o tinir dos guizos, que nem chocalhos de vacas pachorrentas, relembram-me que SOU, que existo... Que existe um milhão de vidas lá fora e que uma delas é minha!
Minha como o grito que trago preso na garganta, arranhando-me como as silvas que outrora deram amoras... O grito condicionado pela liberdade, condicionalmente condicionante e que me prende a mim!
E grito! A estas pedras que recebem o mar que as afaga. E às estrelas que de longe vêm ao pé de mim, sussurrar-me ternurentas baladas de Amor e Amizade.

E o meu céu é tão vasto... Preenchendo o vão da capa negra que [ainda] envergo.



PS: aos guizos e violetas, Walter e Iluvatar, por me acordarem. E a todos os outros, por me acompanharem...

domingo, agosto 21, 2005

Depois de um banho no Atlântico e de caminhar ao Sol ouvindo Variações, sinto que voltei a ser eu próprio por momentos.
Sozinho, naquele passeio, fui contando as pedrinhas do chão e ouvindo o marulhar das ondas nas rochas basálticas. E pensei nas razões pelas quais as pessoas fingem aquilo que não são... Não entendo porque se insiste no sorriso por obrigação, no cumprimento por imposição de estatuto...
Devíamos falar com as pessoas por prazer, porque gostamos, porque queremos saber como passam!!!
Quantas vezes não nos arrependemos depois do "Olá, tudo bem?" da praxe?! Arrepiamo-nos quando ouvimos um "Mais ou menos..." e um desfiar de tristezas, nas quais não conseguimos manter o mínimo interesse... Não queremos porque somos egoístas e estamos embrenhadíssimos nas nossas pequenas guerrinhas interiores...
Mas, se assim não for, quem pensará em nós?! Vendo bem a questão, quando queremos libertar alguma bomba, do outro lado está alguém completamente desinteressado.

Bem, não será assim tão linear. Afinal de contas, não estou assim tão só. Tenho-me a mim, à família e aos amigos.

Mas gostava de ser melhor pessoa. De dar por dar e não esperar nada em troca... E eu já recebo tanto!!!!
Mas sempre uma insatisfação que me queima o âmago e me fere a alma. Não consigo suprir este resfolegar de falta que um dia ousei libertar... Um amor que não vem e um sexo nunca feito!
Uma troca de olhares até ao íntimo e o antecipar atitudes levam-me às lágrimas de tanta falta que me fazem.

E volto a perguntar "Porquê?" esta necessidade. Digo para mim próprio, constantemente, que a vida não passa por aí. Mas passa, infelizmente passa...

Infelizmente porque insistes em desviar essas lagoas verdes dos meus horizontes púrpura. Porque os teus ecos e os teus pensamentos voam de mim para fora e não consigo fazer mover eses moínhos de emoções em ti encerradas.

Em ti não vi os braços abertos... Cego pela minha racionalidade. E nos meus lençóis jamais deixarás a brisa jovem do pinhal novo, queimado pela ausência e pela distância. Abres-te aos poucos e vou entrando devagarinho, pedindo licença ao ar que respiro, com medo de te querer demasiado.
Páro e recomeço, com a impetuosidade própria dum vulcão que explode sem direcção nem rumo... E as minhas lavas levarão tudo à sua passagem. O Bom e o Mau...
Restará apenas a tua memória, a tua imagem, o teu riso, aprisionados no interior de um diamante fabricado pelos turbilhões que em mim se levantam.
E trá-lo-ei pendurado ao pescoço, numa fina corrente de Amor e Saudade.

sábado, agosto 13, 2005

A Ti...

Redentora.
Este maná divino que
me purifica a alma,
Já me fazia falta.
O doce trilhar deste
Caminho, faz-me recordar
que ainda posso ser criança.
Que brinca nos teus braços
e que neles anseia um carinho
despojado de tudo e cheio
de um Amor eterno.
Porque me fazes acreditar que
faço falta.
Porque me fazes acreditar em
Mim. Porque és Única. Uma gema
preciosa, perdida numa arca,
algures num antiquário...
Lavas-me o ser com o teu riso
ensurdecedor e terno.
Porque tu és eu e eu sou o
chão que pisas, com Ela nos braços...
Porque a vida que pulsa em ti
é um vento que sopra as minhas frágeis
Velas.
Serenamente, caminho incerto
no que quero. Mas acredito que
as "Pedras" esculpem o meu percurso
Convosco.

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