Suspiro
Dizer adeus a uma vida, aos amigos, a estas ruas que me viram crescer, que me ouviram rir, que me ouviram chorar e que me sentiram amar, não é fácil.
Mas nunca pensei que me custasse tanto... São mil punhais cravados no meu âmago!
São uma manada de elefantes que pisam, sem cessar, o meu frágil coração.
Esta chuva que cai faz-me querer fazer parte dela. Fundir-me com as pedras da calçada e juntar-me a tantos outros que por aqui passaram. Sentir tudo o que um dia foi já sentido e ampliá-lo por um factor exponencial de tamanha grandeza, que nem Einstein o entenderia... Sim, porque nestas coisas do sentir, não há física que o explique nem amanse.
Mamã... Porque não me pareces tão confortável agora?!? Porque me oprimes com o teu Amor?! Deixa-me... Deixa-me chorar junto à Cabra, junto à Sé Velha e trocar um beijo a medo debaixo das sábias árvores do Penedo. Aquele, que escuta e cresce com a força de mil Amores trocados a medo.
O meu Amor é para vocês! Estes rolos de sal que de mim caem são um misto de felicidade e de nostalgia. Têm o gosto de mil palavras escritas sem sentido. São o que de mim cresce sem sentido, mas dirigido a Ele... Esse Amor que busco e não encontro.
O chão está traiçoeiro. Até ele se junta a mim, nesta viagem por uma Coimbra só minha e de todos. A poeira de um Queima, a chuva de uma Latada e o calor sensual de uma noite de copos, jamais serão insubstituíveis. Jamais será em mim inscrito tamanha sabedoria, tamanha alegria de viver.
Com ela descobri-me e aprendi a gostar de mim. Com ela vivi e morri Amores fragéis. Nela recitei os cânones de uma conduta socialmente correcta e, ao mesmo tempo, inscrevi nos anuais de memórias colectivas, passagens de fazer corar qualquer um que ouse julgar-me... Julgar! Ah...
As gnetes passaram e nem notaram a minha ausência. A rotina tornou-se fatal. Quem veio, fê-lo para partir e não sou diferente de um qualquer. Parto, contigo, com o outro, com aquele, com este maná dos Céus e não mais olho para trás. Sigo em frente, com o impeto de mil erupções, com as vagas de mil ondas, com a intensidade de um lagoa sob o Sol. E fico, em mim, nas minhas palavras, no ar que respirei, nas cadeiras em que me sentei.
Tal como veio, de mansinho, esta chuva também irá. E eu com ela. Como uma baforada de um cigarro fumado por Vós, os que me compreendem.