quarta-feira, dezembro 28, 2005

E de novo o frio

Subitamente, tomo consciência dos meus limites físicos. Onde terminam os meus braços e começam as minhas pernas. Onde alcança a minha visão e o pouco que consigo ouvir... O que não consigo pensar e na minha inércia para ir mais além.
A 6 dias de iniciar uma nova etapa, basilar, da minha vida, sinto-me vacilar.
Como um miúdo que sobe, aterrado, na montanha russa, vou contando os dias.
Será que saberei conseguirei dar resposta às demandas de quem me procurará em sofrimento e às minhas próprias dúvidas?!
Como Rámon Sampedro, apetece fugir, pois parece não haver vida nesta vida inerte. Como ele, sonho em saltar... Mas ao mesmo tempo, penso também que será uma fuga estúpida de quem tem medo de falhar! E finco o pé e enterro ainda mais as minhas raízes nesta basáltica terra da qual sugo energia, paz de espírito e serenidade.
É nela que me tenho encontrado e no mar salgado. Corrosivo, mas tão carinhoso! Revolvendo-me por dentro, vejo-me por fora. Umas vezes gosto, outras nem tanto. E os receios sempre a tomarem-me de assalto.
E quando tudo parece bem, numa felicidade estúpida e efémera, eis que surge de novo o frio. Gélido, cortante, castrador de sentimentos.
Um frio que toma de rompante as nossas guaritas e se instala, como rei e senhor dum feudo alheio.
Um frio que deixa cicatrizes... Um frio que aumenta a distância entre os corpos e os espíritos... Um frio magoado, dolente e penetrante...

E espero, inutilmente, nunca mais acender uma lareira.

sexta-feira, dezembro 23, 2005

Da Agitação

Catalizado pelo álcool que vai correndo todos os restícios de moral e amor próprio, vai nascendo em mim um desejo, um vapor, um calor... Uma força viva que a racionalidade em mim criada e imposta é incapaz de deter.
A todas as horas, a todos os minutos, de manhã à noite, sucedem-se, em caleidoscópica visão, as imagens de algo vivido e, ainda assim, por experimentar. Algo que explode em contida comoção no interior do meu íntimo e que resvala pelo meu corpo, que nem cera derretida por um lume que não se apaga nunca!
Vaga após vaga, sonho atrás de sonho, espero por um sinal. Um sorriso, uma lágrima, um suspiro... Algo que acalme este motor de 100 cavalos que galopa no meu peito e impele os músculos, os ossos, o meu ser afinal, para uma apoteose catastrófica que tem tanto de bom como o que tem de destrutivo...
E mesmo assim, adormeço embalado por um sentimento que há-de vir sem nunca se mostrar como gostaria que fosse: um raio de Sol resplandecente nas águas calmas duma tela de Monet...